Por que você NÃO deve usar Cloudflare em sistemas de credenciamento local

Nos últimos anos, o Cloudflare tornou-se quase um padrão para aumentar segurança e desempenho de sites. Ele é excelente para sites institucionais, blogs, lojas virtuais e sistemas públicos na internet.

Mas não é recomendado para sistemas de credenciamento local, especialmente em eventos presenciais que exigem velocidade, estabilidade, proteção de dados e controle total do ambiente.

A seguir, explicamos de forma clara por que o uso do Cloudflare nesse cenário costuma causar mais problemas do que benefícios.


1. O sistema pode depender da internet — mas não pode depender de fatores externos

Sistemas de credenciamento podem sim funcionar usando internet.
Isso não é o problema.

O problema é depender de serviços externos, fora do ambiente controlado do evento, como:

  • CDN e WAF do Cloudflare
  • datacenters internacionais
  • rotas externas sobre as quais você não tem controle
  • servidores intermediários distribuídos pelo mundo

Quando cada requisição precisa deixar o evento, viajar pelo Cloudflare e só então retornar ao servidor do credenciamento, a operação fica sujeita a:

  • latência imprevisível
  • bloqueios automáticos
  • instabilidades globais
  • problemas fora do seu alcance

Você pode depender da internet do evento, mas não pode depender de fatores externos em um sistema crítico.

E há outro ponto crucial: ao trafegar dados pessoais dos participantes por servidores externos ao ambiente do evento, você expõe informações que deveriam estar protegidas. Isso amplia o risco de vazamento de dados e cria um cenário delicado à luz da LGPD, totalmente desnecessário em uma operação que deveria ser interna e controlada.


2. Cloudflare pode bloquear o tráfego interno e travar a operação

O Cloudflare protege sites públicos contra:

  • bots
  • tráfego excessivo
  • comportamentos suspeitos
  • ataques DDoS

Mas no credenciamento é totalmente normal que:

  • totens enviem várias requisições simultâneas
  • impressoras consultem APIs em alta frequência
  • notebooks acessem a base milhares de vezes
  • todo tráfego venha do mesmo IP interno

Para o Cloudflare, isso parece um ataque.

E ele aciona:

  • Rate Limiting
  • Firewall Rules
  • desafios de verificação
  • bloqueios temporários

Isso provoca falhas aleatórias e filas gigantes.


3. Cloudflare quebra comunicação local (LAN), totens e impressoras

Credenciamento local depende de:

  • comunicação direta entre dispositivos
  • APIs internas rodando na rede do evento
  • baixa latência
  • IPs privados como 192.168.x.x
  • impressoras que precisam de respostas instantâneas

Cloudflare não suporta esse modelo, já que exige que todo tráfego seja roteado externamente.
Isso gera:

  • quedas
  • lentidão
  • falhas de impressão
  • sistemas travando em momentos críticos

4. Cloudflare adiciona latência onde milissegundos fazem diferença

Cada atendimento envolve:

  • leitura do QR Code
  • validação
  • retorno da API
  • impressão

Tudo deve acontecer em milissegundos.

Quando a requisição vai para fora do evento e volta, passa por:

  1. servidores remotos
  2. processamento da CDN
  3. inspeção do WAF
  4. filtros automáticos

Isso é um atraso desnecessário que não pode acontecer em credenciamento.


5. Cloudflare pode cachear dados que não podem ser cacheados

Credenciamento é 100% dinâmico.

O Cloudflare, se mal configurado, pode:

  • entregar listas desatualizadas
  • cachear dados sensíveis
  • misturar sessões
  • expor informações de participantes
  • gerar inconsistências graves

E quanto mais camadas externas, maior o risco de vazamento de dados, seja por configuração incorreta, seja por logs externos, seja por retenção acidental de conteúdo temporário.

Sob a LGPD, isso é uma bomba-relógio.


6. Cloudflare interfere em WebSockets, impressoras e integrações locais

Credenciamentos usam:

  • WebSockets
  • polling rápido
  • APIs internas
  • comunicação direta com impressoras
  • modo kiosk

Cloudflare costuma bloquear, limitar ou desestabilizar todos esses fluxos.


7. Risco ampliado de vazamento de dados (LGPD)

Esse ponto precisa ser reforçado separadamente.

Ao utilizar Cloudflare em credenciamento:

  • os dados pessoais dos participantes trafegam por datacenters externos
  • logs, headers, cookies e tokens podem ser armazenados em servidores fora do país
  • informações extremamente sensíveis (nome, CPF, e-mail, status de inscrição, QR Code, tipo de credencial) passam por processamento de terceiros

Isso aumenta o risco de vazamento e ainda cria obrigações adicionais de compliance que não precisariam existir, já que o ambiente deveria ser local e isolado.

Em um sistema de credenciamento, a segurança e a privacidade são tão importantes quanto a velocidade.
Cloudflare adiciona uma superfície extra de risco que simplesmente não faz sentido.


Conclusão

O Cloudflare é excelente para:

  • sites públicos
  • blogs
  • e-commerces
  • sistemas orientados à internet

Mas não deve ser utilizado em sistemas de credenciamento local, porque:

  • adiciona dependência de fatores externos
  • causa instabilidade
  • quebra comunicação local
  • prejudica integrações e impressões
  • aumenta latência
  • cria risco adicional de vazamento de dados
  • expõe informações a terceiros, contrariando boas práticas da LGPD

É uma camada que não traz ganhos e ainda adiciona riscos.